sábado, 24 de janeiro de 2009

serenata...

Quando cheguei eu deveria ter uns 7, 8 anos.
Eu estava dentro de um navio.
Não.
Eu estava dentro de um ventre. De minha mãe talvez.
Não. Minha mãe não estava.
Eu tinha 7, 8 anos...
Acho que cheguei no frio. úmido...
Tinha dois irmãos. Não, acho que um era meu marido.
Beijei sua boca e disse – "Eu te amo".
Quem estava no ventre não era eu e sim ele. Meu filho. Filho do meu marido.
Meus irmãos cresceram e eu casei. Casei pequena.
O ventre era quente e úmido
mas eu tenho frio
Nasci agora.
Não.
Dei a Luz. Não, não dei a luz. Ele morreu. Morreu antes que eu pudesse lhe dar um beijo.
A minha respiração nunca foi o que deveria ser...
Voltei.
O navio era frio. Escuro.
Não podia ver. Apenas pegar.
Peguei na mão dele e sorri.
Ele não viu meu sorriso... pensou em lágrimas
Tenho medo de não poder mais ver
Não vejo meus pais.
Atravessei muitas lágrimas...
Estou longe demais.
Longe demais do começo.
Sou um meio sem começo e fim.
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por Thaís

do sem nome...

Dói quando respiro...
Isso sempre vem

A guerra, a guerra e não há guerra de fato.
Espero por algo que não vem?

Quem é você?
uma árvore tentando sobreviver.
Quem é você?
uma jaboticabeira tentando sobreviver.
Quem é você?
ninguém.

À janela à espreita. A janela aberta. Sons dos carros que não existiam, e agora estão aqui.
Uma dor no peito. Uma distância por dentro.

Corro. O barulho das pedras no chão.
perseguição. ferida.
estou ferida. braços, pernas, ventre.
Eu à espreita.

Corro para não existir.
corro para não ser vista.
Aqui todos são vistos.
Vivo na contradição de uma chaminé e um Shopping center.

Que sou eu?

Toco fogo na minha prisão.
A mulher dos trilhos.
frente aos trilhos espero que o trem me arrebate.
Quero ser tacada para o fim do sem fim. Ele existe?

Corro para não existir.
uma mão me arrebata. uma força violenta. vôo.

Eu à espreita olho pelo buraco.
o buraco do meu embaixo.
estou do lado do que se vê.
estou do outro lado do muro.
Alí a guerra é perfeita.
A Guerra.
Eu à guerra.
ou não há guerra de fato. eu na guerra de fato.
aqui eu sou perfeita, mas não me sou.

Quem é você?
eu

um buraco que atravessa o vazio.
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por Thaís

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Pique Nique na Praia (depoimento de Sr. Gilberto)

Eles saiam da fábrica e iam fazer pique nique na praia de Santos, ou então na represa de Guarapiranga.
Quando iam para Santos alugavam um ônibus, e levavam seus lanches, frango, farofa...
Chegando no pico da estrada, onde se via a praia, enchiam suas grandes bolas e boias e se tornava impossível sair do ônibus...
todo mundo ficava ansioso para sair e intalado por uma bola na porta.
Depois do sacrificio para sair, estendiam um toalhão no chão e colocavam toda o comida.
voltavam vermelhoscomo camarões e muitos sujos de areia... alguns nem tomavam banho na chegada de suas casas.
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por Thaís

Ilha dos Amores

Fragmentos do Livro "Formação Histórica de São Paulo", de Richard M. Morse

(...) Os Caramanchões perfumados da Ilha dos Amores tinham que competir com os sapatos velhos, ossos, latas e roupas de cama apodrecidas. (...)


Em 1886, um italiano, Dr Lomonaco, observou a capital da seguinte maneira:

São Paulo não apresenta ainda os aspectos de grande cidade, no sentido exato da palavra. Está sujeita presentemente a um regimen, a uma obra de continuas demolições e transformações, que amelhoram e embelezam de dia pra dia e não pode concluir-se em breve lapso.
Uma cidade nova tende a tomar lugar a outra antiga, e ao mesmo tempo, novos bairros se constroem, obedecendo a melhor planta e melhores canones de que os antigos, dilatando-se-lhe diariamente a periferia... Daí provém contrastes muito acenctuados.
Ao lado dos belos palacetes, em condições de figurar em qualquer grande cidade, ainda se notam os casebre baixos e humildes, as casas de taipa construidas pelos primeiros colonos portugueses. Em confronto com algumas ruas, bem pavimentadas, com numerosos edifícios, outras já se apresentam, apenas delineadas e de edificação esparsa, cobertas de hervas rasteiras, ou de chão de terra, impraticaveis desde que chova.
Tal desequilíbrio de construção e de diferenças de aspectos materiais observa-se tanto na parte velha como a nova. Não há bairro, pode-se dizer, do qual se afirme que tem definitivo aspecto. Assim só dentro de dez ou quinze anos terá São Paulo definitivo facies, conquistando o feitio de grande e bela cidade.


(do livro "Impressões de São Paulo", de Afonso de Taunay)
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por Thaís

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Marco Zero

O mundo para Xavier dividia-se perfeitamente em duas metades: as famílias e o pessoal do Braz. E de Carnaval? O senhor gosta, seu Xavier? Gostei do antigo. O pessoal do Braz tomou conta e estragou tudo. As famílias não podem mais se divertir. Não há respeito.

Marco Zero - A Revolução Melancólica
Oswald de Andrade

Estrada de Ferro São Paulo/Santos

Na época da construção da Estrada de Ferro São Paulo/Santos, muitos brasileiros não acreditavam no trajeto. Como era possível gastar tanto dinheiro nesta estrada inglesa? Com certeza poderima ter feito algo melhor. As pessoas iam conferir se era ferro ou borracha. Mas outros diziam: "de certo há de ter umas 10 pessoasno caixão para virar essas Rodas!"

História de São Paulo

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Corrosivo encontra Quarto Physical Theater

Postar, postar e postar...
ando devendo esta postagem desde nosso encontro com a Quarto Physical Theater / Quarto Teatro Físico / Quarto Fysisk Teater...
O que dizer deste encontro...
Foram tantas divagações... discussões existenciais sobre uma mesa com toalha de (algo que a gente tinha gostado muito, mas eu não me lembro o que é)... lá na casa da Renata...

Qual a condição do artista...

Como poder ser o que se propõe a ser, num país onde a dificuldade financeira grita, e o capital domina.

Foram tantas questões...
*Lembro-me de um de nossos ensaios, o primeiro para Leandro e Ana, onde falamos das *questões personagem/ator... ou personagem vs ator
*
Afinal, que máscara é essa que eu trago e que muitas vezes não parece fazer sentido... ?

Um dia corrosivo e quarto se encontram na sala de um tal eletricista. Resolvemos conversar a partir do corpo. Não falamos... respiramos e fizemos uma partitura de movimentos... uma sequência onde a base era a respiração e a região do ventre... Tão filosófica quanto nossas conversas... tão existencial quanto...
A Renata vencendo seus LimitesBacia... lindo ver a Ana trabalhando ao lado da Renata, e lindo para mim e a Carol que recebemos o olhar do leandro...
UMA HORA A CABEÇA DEU PANE... OU FOI O CORPO. o Meu...

Tudo isso aconteceu na primeira semana de Novembro e agora ficou caótico na minha memória....
quebra cabeças.

Não consigo mais ter certeza de nada... acho isso, acho aquilo

Acho que os olhares entre as caldeiras são esses quebra-cabeças que vamos montando durante o processo... um dia a gente acha uma peça dentro de um experimento e coloca sobre a mesa para tentar encontrar onde ela se encaixa... mas talvez esse encaixe possa variar a cada novo dia...
cada peça surge da relação entre os corrosivos e principalmente das pessoas que passam por nós e nos deixam marcas.

Fragmento-me novamente... e tento mais uma vez...

Ensaio aberto da Quarto
frutas, casacos de pele, saltos, fitas, nu, o macaco, o som, microfone, a maça na boca de quem fala... uma cantora de Blues/Rock?
"Tente ser você" - ela diz pra ele.
"√amos tentar outra coisa" -ela diz novamente.
Deixe essa máscara, seja você.
Ela dança. dança? sim, ela dança
Ele lembra da infância... me remeto ao Retornarse
Ela come suas mexiricaseios
Ele dança nu com a maça na boca
em algum momento ela colocou fita crepe vermelho no chão e falou de macacos...
ele andou entre esta fita e comeu o microfone.
Assim? nessa ordem?
assim nesse momento. agora.
São tantas fotos em minha retina... tantos sons e cheiros que restam... eu poderia narrar um principio meio e fim, mas não é isso... não é isso que quero...

Abraços longos e apertados...
Parece que novamente reencontrei pessoas que fazem nossos olhos brilharem
Meu coração quer saltar pela boca, porque eu realmente estava extremamente a flor da pele. calma... um pé depois do outro... calma... respiro uma felicidade melancólica de ter me reencontrado no encontro com eles... eles corrosivo, eles quarto, eles auto-retrato.

Não vou reler...
vai assim como um fluxo de pensamento
não quero correções,
quero o agora.

Thaís