domingo, 30 de novembro de 2008

momento corrosivo

Dia 20 de novembro aconteceu entre os membros do CORROSIVO uma apresentação de trabalhos – em processo – que os artistas criaram individualmente ou colaborativamente.


Estiveram presentes neste dia:

dos corrosivos: Alexandre Teles / Carolina Bonfim / Edson Secco / Lucas Jardim / Marcos Gorgatti / Mário Lopes / Renata Ferraz / Thaís de Almeira Prado.


e convidados: Anna af Sillen de Mesquita, Leandro Zappala e o Sr. Oswaldo Righi.

Corrosivo e Quarto

No mês de novembro aconteceu o encontro entre o Corrosivo e os artistas Leandro Zappala e Anna af Sillen de Mesquita da Companhia brasileira-sueca Quarto Physical Theater (www.quartotheater.com).

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

sobre o transitório e a história

Sobre o Transitório -

Desde que iniciamos nossas vidas como estudantes, e até o dia em que finalmente conseguimos concluir nossos estudos fundamentais, a história se apresenta como uma matéria das datas. Um grande dicionário que contêm todos os eventos fundamentais para a compreensão do desenvolvimento da civilização humana, que vai desde os mais remotos tempos do homem primitivo, às conquistas romanas, sem deixar de lado, os grandes líderes da humanidade. Uma linha reta, com algumas indicações importantes para nosso desenvolvimento. O pensamento linear e extremamente mecânico que caracteriza nossa sociedade não poderia estar de fora ao falarmos das ciências humanas. Mais do que uma sucessão de guerras e conquistas, quedas e ascensões de classes dominantes, a história é vida, vida dos que desconhecem os grandes eventos, ou as datas mais marcantes da nossa sociedade. Quando foi a revolução industrial? O fim do período colonial? O surgimento da penicilina?

Aproximar a história do cotidiano, dos aspectos do microcosmo humano, eis a proposta de uma história que compreenda o ser humano enquanto realidade transformadora. Através da psicologia social, e da análise dos microcomportamentos humanos, abre-se uma nova perspectiva para compreensão dos movimentos biopolíticos e econômicos das vidas dos seres humanos. Ao optarmos pela compreensão da sociedade através dos episódios “menores”, ou pouco importantes, abrimos uma estrada que permite mergulhar no oceano desconhecido das crônicas de vida. Daquilo que ocorre na vida de pessoas anônimas, episódios breves da família, ou de uma viajem. Navegar por mares onde não são as datas que fornecem os testemunhos das mudanças profundas, ou superficiais de nossa sociedade ocidental, exige que entremos em contato com a própria fonte da vida social, as pessoas que viveram nela. A transitoriedade da vida e sua passagem fluída, se personificada em cada lembrança viva.

Explorar o tema da memória e sua relação com a elaboração de um projeto, onde a sobreposição da criação artística com a produção científica surge como uma proposta de superação dos limites das ciências humanas, através da interdisciplinaridade, está produzindo novos instrumentos que são desenvolvidos para construírem o projeto de resgate das lembranças de velhos trabalhadores das Indústrias Matarazzo. A importância da memória é materializada nos depoimentos de cada um dos entrevistados, onde a representação do passado surge como um caminho que parte do presente, e nele se alimenta. Sejam palavras que remontem às lembranças mais tenras da juventude, o brincar no parque, ou o uniforme de escola lembrado pelo Sr. Aldo, todas as memórias contém importantes quadros sobre uma época. O constante apontamento de todos os entrevistados sobre um tempo que não volta mais, nas palavras de Sr. Carmelo: ”aquele tempo era muito bom”, não só nos transportam para uma outra época, mas também expressam marcas de um tempo onde a vida possuía outras características sociais e econômicas.

Uma época marcada por transformações profundas na maneira de sentir, de compreender o mundo, surgia no Brasil impulsionado pelos novos avanços industriais. A importância das Indústrias Matarazzo para o fornecimento de um padrão de produtividade e consumo em um país que ainda dava os seus primeiros passos, em direção ao progresso no início do século XX, é inegável. Os entrevistados, até o presente momento do projeto, são todos filhos de um período de grande crescimento industrial, o fim dos anos 50 e início dos anos 60, fase esta em que todos davam seus primeiros passos como trabalhadores do complexo industrial dos Matarazzo. É impossível não reparar em como o tempo da máquina superou o tempo do homem, a vida tornou-se marcada pelo batimento do relógio, e não mais o do coração. Como não pensarmos no profético filme de Fritz Lang, Metrópoles, como a anunciação, e o embrião dos homens máquina mais tarde retratados por Chaplin em seu filme Tempos Modernos. Da ficção literária ao cinema de Hollywood, ecos dos novos tempos de progresso eram anunciados por toda parte. Um novo ritmo de vida, uma nova forma de pensar era materializada em nosso país pelas Indústrias Matarazzo. E mais do que isto, sentida na pele, e incorporada pelos filhos de imigrantes italianos, com o Sr. José Barone, que aqui chegaram aos milhares, em busca de nova sorte.

A memória é para a história seu alicerce, um fluxo incessante de produção de novas possibilidades, de percepção de um período histórico até então somente observado através das grandes façanhas econômicas ou políticas. O tempo vivo da memória fornece a substância que possibilita a construção de novas perspectivas sobre um mesmo tempo, que abre rotas inéditas para entendermos o tempo em que vivemos. Talvez seja este nosso maior dilema, em um mundo onde tudo é tão transitório, como conseguir fluir sem que sejamos capturados pela ditadura do sempre novo. Se tudo que é sólido realmente se desmancha no ar, como Marx disse, cabe ao ser humano tentar valorizar sua história para que não sejamos nós, os responsáveis por nossa própria ruína.


Jardim

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A história vista por um detetive.

Existem muitas semelhanças entre os olhares que surgem da leitura de um livro de suspense e a vida de um pesquisador, mesmo que por vezes pareçam nebulosas. Sinto que nos últimos tempos fico cada vez mais próximo de Sherlock Holmes, e começo a me sentir em um filme de suspense, daqueles que as pessoas colocam anúncios no jornal do tipo, "procura-se velhinho desaparecido a uma semana, boa recompensa", algo surreal, mas ao mesmo tempo muito pálpavel. é muito impressionante como as peças do quebra-cabeças, vão se encaixando com o tempo de pesquisa e desenvolvimento do projeto, como elos de uma corrente, ou ilhas de um arquipélago perdido no triângulo das bermudas, aos poucos tudo vai se encaixando. O primeiro passo é levantar pistas sobre o determinado caso, que no nosso são, os senhores ex-trabalhadores da indústrias matarazzo, em seguida rastrear as possibilidades de contato, seja por telefone ou por dicas de outras pessoas, tudo muito parecido ao desenvolvimento de uma tese histórica, algo que poderia ser comparado a uma "literatura-científica", e por último o contato, e o satisfação de mais um caso resolvido. No momento, estou na trilha de um Sr. conhecido como Nagib, em breve terei mais informações sobre ele, espero que sim. Por enquanto só um telefone sem respostas, mas a história continua, ela sempre continua.

Lucas Jardim